Ser ou Ter e as condições de existência para uma nova sociedade
por Alexsandro M. Medeiros
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postado em nov. 2016
A questão entre ter e ser que serve de base a este artigo e analisada no livro de Erich Fromm (1987) não é nova. O filósofo grego Sócrates inspirou os últimos anos de sua vida no modo ser de existência e tomou como princípio a divisa inscrita no templo de Delfos: conhece-te a ti mesmo, revelando já na antiguidade a importância que a compreensão de si mesmo tem para o modo de existência do ser humano. Ainda na Grécia conta-se que Diógenes, famoso por ter poucas posses e de quem dizia-se que vivia em um barril o que, provavelmente deve ser uma metáfora, uma vez foi interpelado por Alexandre, o Grande que, ao conhecer sua fama, disse-lhe certa vez que qualquer coisa que Diógenes desejasse lhe seria concedido e a resposta de Diógenes, tranquilamente acomodado em seu barril, teria sido: desejo apenas que te afastes um pouco pois estais bloqueando a passagem da luz do Sol. Na modernidade, herdeiro da tradição filosófica reflexiva e introspectiva, Rousseau afirmou que o conhecimento que mais interessa ao homem é aquele que, paradoxalmente, ele mais ignora: precisamente o conhecimento de si mesmo.
E o que dizer da psicanálise da qual Erich Fromm é seu discípulo direto? O conhecimento psicanalítico também não é uma forma de buscar o conhecimento de si mesmo? De nossa estrutura psíquica mais interna e que se esconde nas camadas mais remotas do nosso inconsciente, com seus impulsos, instintos, neuroses, tensões? A este propósito Fromm afirma que “compreender a discrepância entre conduta e caráter, entre a máscara e a realidade que ela oculta, é o principal feito da psicanálise de Freud” (1987, p. 105).
Mas Erich Fromm se propõe ir ainda mais além em sua obra e toma como base não apenas o conhecimento oriundo da psicanálise mas também a tradição religiosa dos grandes mestres da vida como Buda, Jesus, Mestre Eckhart, além de poetas como Goethe, para demonstrar que a cultura presente cuja meta suprema é o ter nunca constituiu a teoria do bem-estar expressa pelos grandes Mestres da Vida. A proposta de Fromm é analisar em sua obra o que ele chama de os “dois modos básicos da existência: o modo de ter e o modo de ser” (1987, p. 32). Essa análise é aprofundada na segunda e terceira parte do livro quando o autor faz uma “análise da diferença entre os modos ser e ter de existência, nos quais pretendo elaborar conclusões teóricas com base em dados empíricos [...] [já] os capítulos finais tratam da importância desses modos na formação de um Novo Homem e uma Nova Sociedade” (1987, p. 32). “Os dados empíricos antropológicos e psicanalíticos tendem a demonstrar que ter e ser são dois modos fundamentais de experiência, cujas respectivas forças determinam as diferenças entre os caracteres dos indivíduos e vários tipos de caráter social” (1987, p. 36).
Ser e Ter são dois modos de existência. Ter refere-se a coisas. Ser refere-se à experiência. A base para o Modo Ter de existência é a de uma sociedade aquisitiva que repousa no lucro e no poder, como pilares de sua existência. Já o Modo de Ser é introvisão da realidade e penetração além da superfície do eu como no budismo, judaísmo e cristianismo.
Por ser ou ter não me refiro a certas qualidades distintas de um sujeito em declarações como: ‘eu tenho um carro’, ‘eu sou branco’ ou ‘eu sou feliz’. Refiro-me a dois modos fundamentais de existência, a duas diferentes espécies de orientação para com o eu e o mundo, a duas diferentes espécies de estrutura de caráter cujas respectivas predominâncias determinam a totalidade do pensar, sentir e agir de uma pessoa (1987, p. 43).
O Modo Ter de existência consiste em uma atitude centrada no móvel da propriedade e do lucro e em certa medida justifica o emprego da força para dominar outros seres humanos e manter o controle da propriedade privada. “[...] precisamos empregar força para protegê-lo daqueles que as tirariam de nós, porque eles, como nós, jamais podem ter o bastante; é o desejo de ter propriedade privada que produz o desejo de empregar a violência a fim de furtar de outros de maneira aberta ou velada” (1987, p. 91). Por ser um modo de existência centrado na aquisição de propriedade e do lucro, no ter cada vez mais, a felicidade desse modo de existência consiste na aquisição de poder, poder sobre os outros e poder de aquisição, na capacidade de conquistar. No Modo Ter quando se perde aquilo que se tem se corre um risco de se tornar um derrotado e esvaziado. O homem é movido pela necessidade de ter sempre mais afim de estar mais protegido e pelo medo de perder o que tem o que acarreta sentimentos conflituosos de segurança/insegurança: ao mesmo tempo em que o poder dá aquele que o tem a sensação de um aparente bem estar pessoal, promove o sentimento da insegurança, diante da possibilidade iminente de não ter mais o poder. “Falando de um modo mais geral, os elementos fundamentais na relação entre indivíduos no modo ter de existência são a competição, antagonismo e medo” (1987, p. 118). Os relacionamentos predominantes no modo ter são pesados, difíceis, cheios de conflitos e ciúmes: quer-se possuir/ter a pessoa desejada.
Vejamos agora em detalhes o que seria o Modo Ser de existência tomando como ponto de partida aquilo que poderíamos chamar de uma Psicologia do Ser, ou seja, um estudo psicológico da natureza humana naquilo que ela tem de mais essencial: sua interioridade, sua mente, sua psyché, sua alma.
Psicologia do Ser
O estudo daquilo que podemos chamar de uma Psicologia do Ser pode ser realizado não só a partir dos aportes teóricos de Erich Fromm, mas também a partir das ideias da Psicologia Humanista de Abraham Maslow (s/d).
Maslow concordaria com Fromm que o modo ser de existência é penetração além da superfície do eu e introvisão da realidade e que esse “eu total” ou aquilo que consiste a natureza humana escapa a nossa compreensão do Ser e cuja felicidade consiste em amar, doar e na capacidade de renúncia ao egocentrismo.
Para Maslow a Psicologia abdicou da tarefa de definir o homem e deixou isso ao encargo da Antropologia Filosófica. O que é tão essencial no/ao homem que, sem isso, ele não poderia continuar sendo definido como homem? Nem o behaviorismo com sua ênfase na pesquisa do comportamento e sua ênfase no conceito de Estímulo-Resposta, nem a psicanálise nos ajudam a compreender o Ser humano em sua totalidade: o retrato do homem freudiano deixa de lado suas aspirações, esperanças realizáveis, qualidades divinas. Maslow critica os freudianos pela sua tendência em patologizar tudo, de verem tudo através de “lentes sombrias” e por não ver com suficiente clareza as possibilidades de desenvolvimento sadio no ser humano. É claro que não se trata de ignorar as patologias como algo importante no processo de desenvolvimento do ser humano e a propensão a não ver tais patologias pode ser igualmente um problema.
Os psicólogos ainda não foram capazes, até agora, de reivindicar essa vaga jurisdição dos filósofos, essa área tenuamente vislumbrada, mas que, não obstante, tem uma base indiscutível na realidade. Mas talvez se torne agora viável, através do estudo do indivíduo auto-realizador, ter os olhos abertos para toda a espécie de introvisões básicas, velhas para os filósofos, mas novas para nós” (MASLOW, s/d, p. 66).
Se o Ser do homem é composto por patologias, fracassos e deficiências, é preciso considerar igualmente de que existe algo em nós que nos impele para o crescimento saudável, de uma tendência ou necessidade para o crescimento individual, uma pressão que se faz sentir no sentido da unidade da personalidade, da plena individualidade e identidade, da visão da verdade, do ser bom, de uma realização cada vez mais perfeita de sua condição de Ser humano “e isso significa uma pressão no sentido de que a maioria das pessoas chamaria bons valores, serenidade, gentileza, coragem, honestidade, amor, altruísmo e bondade” (MASLOW, s/d, p. 188). E isso em sentido naturalista, de uma natureza biologicamente alicerçada e que se dirige ao crescimento do indivíduo. O que não significa ignorar a influência do meio sobre o seu desenvolvimento. O papel do meio pode ajudar a realizar suas próprias potencialidades ou não, mas o meio não lhe confere potencialidades e capacidades, é o homem quem as possui em si mesmo, de forma incipiente ou embrionária, exatamente como possui braços e pernas em embrião. Assim, tal qual seus braços e pernas, seus olhos e cérebro, a criatividade, a espontaneidade, a individualidade, a autenticidade, o cuidado com os outros, a capacidade de amar, o anseio de verdade, são potencialidades embrionárias que pertencem à espécie de que ele é membro.
Isso não está em contradição com os dados já reunidos que mostram, de forma clara, que a existência numa família e numa cultura é absolutamente necessária para realizar esses potenciais psicológicos que definem o ser humano. Tratemos de evitar essa confusão. Um professor ou uma cultura não criam um ser humano. Não implantam nele a capacidade de amar, ou de ser curioso, ou de filosofar, ou de ser criativo. O que fazem, sim, é permitir, ou promover, ou encorajar, ou ajudar o que existe em embrião a que se torne real e concreto. A mesma mãe ou a mesma cultura, tratando um gatinho ou um cachorrinho exatamente da mesma maneira, não podem fazer dele um ser humano. A cultura é sol, alimento e água; não é a semente (MASLOW, s/d, p. 193).
As proposições de Maslow afirmam a existência dos valores supremos na própria natureza humana onde devem ser descobertos e não em uma realidade externa e alheia à natureza humana. É no seu Ser e principalmente em seu Ser que o homem irá encontrar os meios para se auto realização. Com tudo isso Maslow conclui que
[...] a natureza humana tem sido insuficientemente valorizada, de que o homem tem uma natureza superior que é tão ‘instintóide’ quanto a sua natureza inferior, e que essa natureza superior inclui as necessidades de trabalho significativo, de responsabilidade, de criatividade, de ser justo e equânime, de fazer o que é digno de ser feito e de preferir fazê-lo bem. Pensar em ‘recompensa’ em termos de dinheiro, unicamente, é claramente obsoleto em tal enfoque. É certo que a satisfação de necessidades inferiores pode ser comprada com dinheiro; mas quando elas já estão satisfeitas, então as pessoas são motivadas por espécies superiores de ‘pagamento’ – filiação, afeição, dignidade, respeito, apreciação, honra – assim como pela oportunidade de individuação e a promoção dos valores supremos: verdade, beleza, eficiência, excelência, justiça, perfeição, ordem, legitimidade, etc. (p. 259).
Vemos assim como Maslow se coloca claramente dentro de uma perspectiva que em parte é compartilhada por aquela de Erich Fromm, de uma psicologia que possa servir de base para a busca do conhecimento do Ser que, sob certos aspectos e circunstâncias, é diametralmente oposto ao modo Ter de existência.
De tudo isto resulta uma questão deveras importante para a vida em sociedade. É possível passar de um modo de existência a outro? A respostas de Erich Fromm a esta pergunta é não só que é possível, mas necessário e fundamental para a nossa sociedade. Fromm chega mesmo a afirmar que tanto jovens como homens maduros estão interessados nesta mudança embora não se possa precisar essa ideia em termos quantitativos. O modo Ter de existência já não satisfaz a uma grande maioria de pessoas e um número cada vez maior de indivíduos e grupos movem-se no sentido de Ser, representando uma nova tendência a superar o modo Ter de existir, o que “dá esperança da mudança geral de atitude do modo ter ao modo ser...” (1987, p. 87). E é o próprio Fromm quem leva ainda mais adiante esta reflexão: “será possível uma mudança de caráter em grande escala? Em caso positivo, como poderá ser feita?” (1987, p. 165). A resposta a esta pergunta depende do esforço individual e coletivo dos indivíduos em busca da construção de um novo homem e uma nova sociedade, com uma estrutura social, valores e normas diferentes daquelas que enfatizam o Ter como condição essencial da existência humana, de uma cultura que não estimule a ânsia de posse mas que estimule a realização plena das potencialidades humanas.
“Devemos decidir qual desses dois potenciais queremos cultivar, compreendendo, porém, que nossa decisão é amplamente determinada pela estrutura socioeconômica de dada sociedade que nos inclina para uma outra solução” (1987, p. 112). Essa decisão terá impactos profundos para a nossa sociedade e se decidirmos cultivar o Ser o resultado será um novo homem para uma nova sociedade.
O Novo Homem
“A função da nova sociedade é favorecer o surgimento de um novo homem, de seres cujo caráter exiba as qualidades seguintes:” (FROMM, 1987, p. 167-168).
- Disposição a abandonar as formas de ter, a fim de plenamente ser.
- ... interesse, amor, solidariedade com todo o mundo circunjascente, em vez do desejo de ter, possuir, controlar o mundo...
- [...]
- Amor e respeito pela vida em todas as suas manifestações, no conhecimento de que não as coisas, o poder, tudo o que é inerte, mas a vida e tudo o que é próprio a seu crescimento é sagrado.
- Tentar diminuir a ambição, o ódio e as ilusões tanto quanto possível.
- [...]
- Desenvolver a capacidade de amar, juntamente com a capacidade crítica, e de pensamento não emocional.
- Abandonar o narcisismo e aceitar as trágicas limitações inerente à existência humana.
- Adotar como o supremo objetivo da vida o pleno crescimento de nós mesmos e dos nossos semelhantes.
- Saber que para atingir esse alvo é necessário disciplina e respeito pela realidade.
- [...]
- Conhecermo-nos a nós mesmos, mas não o eu que conhecemos, mas também o eu que não conhecemos – muito embora tenhamos um vago conhecimento do que não sabemos.
- Sentir nossa identidade com a vida e, com isso, abandonar o objetivo de conquistar a natureza, subjugando-a, explorando-a, violentando-a, destruindo-a; mas tentando, ao invés, compreender a natureza e cooperar com ela.
- [...]
- Saber que o mal e a destrutividade são conseqüências inevitáveis do fracasso em evoluir.
- [...]
Vamos comparar com alguns dos pressupostos básicos da Psicologia Humanista de Maslow (s/d, p. 27-28):
- Cada um de nós tem uma natureza interna essencial, biologicamente alicerçada, a qual é, em certa medida, “natural”, intrínseca, dada e, num certo sentido limitado, invariável ou, pelo menos, invariante.
- A natureza interna de cada pessoa é, em parte, singularmente sua e em parte, universal na espécie.
- É possível estudar cientificamente essa natureza interna e descobrir a sua constituição (não inventar, mas descobrir).
- Essa natureza interna, até onde nos é dado saber hoje, parece não ser intrinsecamente, ou primordialmente, ou necessariamente, má. As necessidades básicas (de vida, de segurança, de filiação, de respeito e de dignidade pessoal, e de individuação ou autonomia – veja a imagem abaixo), as emoções humanas básicas e as capacidades humanas básicas são, ao que parece, neutras, pré-morais ou positivamente “boas”. A destrutividade, o sadismo, a crueldade, a premeditação malévola, etc. parecem não ser intrínsecos, mas, antes, constituiriam reações violentas contra as frustrações das nossas necessidades, emoções e capacidades intrínsecas (...) A natureza humana está muito longe de ser tão má quanto se pensava. De fato, pode-se dizer que as possibilidades da natureza humana têm sido, habitualmente, depreciadas.
- Se esse núcleo essencial da pessoa for negado ou suprimido, ela adoece, por vezes de maneira óbvia, outras vezes de uma forma sutil, às vezes imediatamente, algumas vezes mais tarde.
- Essa natureza interna não é forte, preponderante e inconfundível, como os instintos dos animais. É frágil, delicada, sutil e facilmente vencida pelo hábito, a pressão cultural e as atitudes errôneas em relação a ela.
- Ainda que frágil, raramente desaparece na pessoa normal – talvez nem desapareça na pessoa doente. Ainda que negada, persiste subjacente e para sempre, pressionando no sentido da individuação.
Aspectos da Nova Sociedade
Devemos ter clareza que a realização deste novo homem e as condições de realização de uma nova sociedade não estão dadas e as dificuldades de um tal empreendimento podem parecer quase insuperáveis. Mas essa clareza não deve paralisar nossas ações e eliminar toda espécie de utopia e esperança em uma sociedade melhor. Ao invés de pensar “por que lutar pelo impossível?” podemos levar em consideração que a utopia sempre foi o móvel da humanidade e foi devido a utopia de alguns homens e mulheres esperançosos que ainda hoje alimentamos a esperança de que podemos ser guiados a um lugar seguro e à felicidade que esse roteiro indica. A desesperança não leva a lugar algum: paralisa nossas ações. O que não significa dizer defender um idealismo ingênuo de que a mudança é possível e inevitável. Sim, a mudança é possível e os obstáculos existem para serem superados por aqueles que empreendem todos os seus esforços para a construção de um mundo melhor. “As dificuldades a seguir relacionadas são apenas algumas das que a construção da nova sociedade terá que solucionar:” (FROMM, 1987, p. 170-171)
- Ela teria que solucionar o problema de como continuar o modo de produção industrial sem total centralização, isto é, sem chegar a um tipo de fascismo a maneira antiga ou, mais provavelmente, a um ‘fascismo tecnológico com a face sorridente’.
- Teria que combinar um planejamento geral com alto grau de descentralização, acabando com a ‘economia de livre mercado’, que se tornou em geral uma ficção.
- Teria que acabar com a meta de crescimento ilimitado, estabelecendo, em seu lugar, uma meta de crescimento seletivo, sem correr o risco de colapso econômico.
- Teria que criar condições de trabalho e um espírito geral em que o ganho material não seja a motivação eficaz, mas satisfações psíquicas e afetivas.
- Teria que estimular o progresso científico, e ao mesmo tempo, evitar que esse progresso se transforme em perigo para a espécie humana em sua aplicação prática.
- Teria que criar condições sob as quais as pessoas sintam bem-estar e alegria, e não satisfação no sentido de obter o prazer máximo.
- Teria que proporcionar segurança básica aos indivíduos, sem torná-los dependentes de uma burocracia que os alimente.
- Deverá restaurar as possibilidades de iniciativa individual na vida, e não nos negócios (onde já quase não existe de modo algum).
A mudança é difícil mas não impossível. E sobre as reais possibilidades de mudança da vida em sociedade Fromm compara com a arte de curar na medicina:
Se uma pessoa doente tem a mínima chance de sobrevivência, nenhum médico responsável dirá: “já fizemos o possível”, ou usará apenas paliativos. Pelo contrário, todos os meios concebíveis serão utilizados para salvar a vida do paciente. Certamente, uma sociedade doente não pode esperar menos que isso (1987, p. 191).
Fromm acredita na possibilidade de transformação social a partir do esforço conjunto de homens e mulheres e da mobilização e dedicação dos “melhores espíritos”: “nada, a não ser seu esforço conjunto, contribuirá para solucionar os problemas já mencionados aqui, e para atingir as metas a seguir examinadas” (FROMM, 1987, p. 172). É preciso mobilizar o esforço de todos aqueles que são governados pelo modo ser de existência. Se o modo ter de existência é hoje o dominante é devido a toda uma estrutura social que assim o permite. Ir em busca do novo homem para uma nova sociedade significa alterar o padrão dominante do modo de existência: de ter, para ser. É preciso alterar a estrutura do sistema que fomenta as condições do modo ter de existência.
Embora existam esses fatores que alimentam esperanças as probabilidades de mudanças humana e social permanecem escassas. Nossa única esperança reside no atrativo vitalizante de uma nova visão. Propor esta ou aquela reforma que não muda o sistema é inútil a longo prazo, porque isto não leva consigo a força impulsora de uma motivação forte. A meta “utópica” é mais realista que o “realismo” dos líderes de hoje. A consecução de uma nova sociedade e de um novo Homem só será possível se as antigas motivações com base no lucro, poder e intelecto forem substituídas por novas motivações: ser, participar, compreender; se o caráter mercantilista for substituído pelo caráter criativo, amoroso [...]. (1987, p. 194/195).
Referências Bibliográficas
FROMM, Erich. Ter ou ser? Tradução Nathanael C. Caixeiro. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1987.
MASLOW, Abraham H. Introdução à Psicologia do Ser. Tradução de Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Livraria Eldorado Tijuca, s/d.
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