Medicina Tradicional Chinesa
por Alexsandro M. Medeiros
lattes.cnpq.br/6947356140810110
publicado em ago. 2017
por Alexsandro M. Medeiros
lattes.cnpq.br/6947356140810110
publicado em ago. 2015
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A Medicina Tradicional Chinesa (MTC) tem origem a milhares de anos e utiliza uma linguagem que retrata as leis da natureza, simbolicamente por meio da teoria do Yin-Yang, dividindo o mundo em duas forças ou princípios fundamentais opostas e complementares. A MTC se apoia em um paradigma vitalista, quer dizer, parte do pressuposto da existência de uma energia ou sopro vital que existe além do mundo físico e que determina o estado de saúde ou doença de uma pessoa (LUZ, 1996; SOUSA; VIEIRA, 2005).
Há nas medicinas alternativas uma teoria que a vida se apresenta em movimento, “sopro”, “dinâmica vital”, “energia”, “bioenergia”, afirmando a necessidade de um princípio que não seja apenas material (físico - químico), para explicar os fenômenos vitais. Nestas medicinas, a doença é o resultado de um desequilíbrio de forças naturais e sobrenaturais, compreendida como o rompimento da harmonia com a ordem cósmica em movimento (SOUSA; VIEIRA, 2005, p. 256).
A Medicina Tradicional Chinesa (MTC) “inclui técnicas de massagem (Tui-Na), exercícios respiratórios (Chi-Gung), orientações nutricionais (Shu-Shieh) e a farmacopéia chinesa (medicamentos de origem animal, vegetal e mineral)” (ALTMAN, 1997 apud SCOGNAMILLO-SZABÓ; BECHARA, 2001, p. 1092). Além da Acupuntura, “a medicina tradicional utiliza ervas, massagens, exercícios físicos, dietas alimentares, e prescreve normas higiênicas de conduta” (PALMEIRA, 1990, p. 125). De modo geral, podemos identificar como sendo sete os principais métodos da MTC: técnicas de massagem Tui Na (推拿); acupuntura (針疚); moxabustão (艾炙), que é a utilização de cones ou bastonetes de algodão misturado com substâncias vegetais com fins terapêuticos; ventosaterapia (拔罐), que é a utilização de ventosas para realizar uma sucção na pele; fitoterapia (中药); terapia alimentar (食療) ou dietoterapia; práticas de exercícios como o Qi Gong (氣功) ou Tai Ji Quan (太極拳), além de outras artes marciais chinesas. Essa questão dos principais métodos da MTC não é consensual entre os estudiosos do tema. É possível encontrar também como sendo cinco os pilares da MTC sendo eles: a fitoterapia chinesa, a acupuntura, dietoterapia, atividades físicas e a meditação.
A MTC tem por base a integração e interação entre o ser humano e a natureza, visando o equilíbrio geral das pessoas (Alvarenga et al., 2004). O organismo é visto como um sistema energético e funcional e as doenças vistas como desequilíbrios energéticos, ou “quebra” na harmonia das funções orgânicas. Os fenômenos que ocorrem nos órgãos são explicados por meio de síndromes (conjunto de fatores patológicos de origem interna ou externa ao organismo) que revelam como a base energética da existência e a expressão da matéria, a força vital (QÌ), está circulando no sistema de órgãos e vísceras da pessoa (ZÀNG FU) (apud CINTRA; FIGUEIREDO, 2010, p. 142).
Acupuntura
A Acupuntura é originária da MTC e compreende um conjunto de procedimentos “que permitem o estímulo preciso de locais anatômicos, definidos por meio da inserção de agulhas filiformes metálicas, para promoção, manutenção e recuperação da saúde, bem como para prevenção de agravos e doenças” (GUARULHOS, 2014, p. 15). A utilização da Acupuntura é recomendada pelo National Institute of Health dos Estados Unidos e pela Organização Mundial de Saúde (OMS). A MTC inclui ainda práticas corporais, mentais, orientação alimentar e uso de plantas medicinais (Fitoterapia Tradicional Chinesa).
“O termo AP [acupuntura], cunhado no século XVII por jesuítas, deriva dos radicais latinos acus e pungere, que significam agulha e puncionar” (SCOGNAMILLO-SZABÓ; BECHARA, 2010, p. 492).
A acupuntura se baseia em conceitos da filosofia Taoísta, como a teoria do Yin-Yang, a teoria dos cinco elementos, dos meridianos e da energia vital Qi e holística, ou seja,
considera que os sistemas orgânicos estão integrados de tal forma que suas propriedades não podem ser reduzidas às suas partes. O todo (do grego hólos) depende da harmonia funcional existente entre seus elementos, numa relação dialética entre particular e universal, morfologia e função, estímulo e controle, onde uma parte não pode ser compreendida a não ser quando relacionada com o todo (SCOGNAMILLO-SZABÓ; BECHARA, 2010, p. 492)
Embora a sistematização de conhecimentos e a prática da acupuntura seja reconhecidamente chinesa, não se pode dizer que sua prática tenha ocorrido apenas na China. A origem da acupuntura precede a criação da escrita e aparece em imagens pré-históricas encontradas na Sibéria, e até na América do Sul, em países como Peru e Chile (SCOGNAMILLO-SZABÓ; BECHARA, 2010). Mas a China é, sem dúvida, o principal contexto no qual essa prática se desenvolveu (MA, 2000).
Um dos livros de AP [acupuntura] mais antigos é o Huang Di Ney Jing: “Clássico do Imperador Amarelo Sobre Medicina Interna” ou “Tratado de Medicina Interna do Imperador Amarelo”, escrito na Dinastia Han (206 AC a 220 DC) e atribuído ao mítico Imperador Amarelo, Huang Di (2698 a 2598 AC), criador da escrita chinesa e unificador da China. Esse texto é, até os dias atuais, a base da MTC e traz informações sobre anatomia, fisiologia, patologia, diagnóstico e tratamento de doenças. Esse tratado já afirma que o sangue flui continuamente por todo o corpo, sob controle do coração, cerca de 2.000 anos antes de Sir William Harvey propor sua teoria da circulação sangüínea em 1628 (SCOGNAMILLO-SZABÓ; BECHARA, 2010, p. 493).
A acupuntura é uma técnica utilizada para o tratamento e cura de enfermidades, que age através da inserção de agulhas em pontos específicos do corpo (também chamados meridianos ou acupontos), age equilibrando a energia vital (Qi), que está em excesso ou em falta no estado patológico (PALMEIRA, 1990; WEN, 1989), com objetivo de atingir um efeito terapêutico ou homeostático. “Trata-se de uma terapia reflexa na qual o estímulo nociceptivo dado ao ponto de AP desencadeia respostas em outras áreas do organismo” (SCOGNAMILLO-SZABÓ; BECHARA, 2010, p. 491-492). Os meridianos ou acupontos “foram empiricamente determinados no transcorrer de milhares de anos de prática médica” (RISTOL, 1997 apud SCOGNAMILLO-SZABÓ; BECHARA, 2001, p. 1092) e estão “em vinculação direta com um respectivo sistema fisiológico e/ou mental da pessoa. Por isso, estimulando (tonificando) ou pressionando (sedando/ dispersando) tais pontos, altera-se a circulação de energia vital (QÌ) e o fluxo de sangue (XUÈ) do organismo” (CINTRA; FIGUEIREDO, 2010, p. 142).
O mecanismo de ação da acupuntura tem sido associado ao estímulo neuro-humoral para a liberação de certas substâncias como norepinefrina, endorfina, encefalinas, serotonina e a liberação ou inibição de algumas substâncias que atuam na sensação da dor. Estariam envolvidos ainda mecanismos de vasoconstrição ou vasodilatação que resultam no aumento de células leucocitárias.
A eficácia da Acupuntura tem sido abordada no tratamento da ansiedade (BUSSELL, 2013; GENC; TAN, 2014; GOYATÁ, et. al., 2016; HADDAD-RODRIGUES, et. al., 2013; WANG; KAIN 2001) e utilizada no tratamento de desordens do sistema respiratório, digestivo, nervoso, além de auxiliar no tratamento de problemas psicológicos e emocionais.
No Brasil, o exercício da Acupuntura pelo enfermeiro é assegurado desde a resolução do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) 197/97 além da qual é preciso acrescentar a resolução COFEN 326/2008 que reconhece, regulamenta e dispõe sobre o registro da Acupuntura como especialidade do profissional enfermeiro.
Em relação à Acupuntura, em 2004, foram criados dois programas de Residência Médica, no Hospital das Clinicas da Universidade Federal de Pernambuco (PE) e na Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto(SP). A partir daí, mais 7 cursos foram implantados, em 2005, no Hospital Regional de São José(SC), em 2006 no Hospital dos Servidores Públicos Estadual Francisco Morato de Oliveira (SP), em 2007 na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (SP), em 2008 no Hospital de Base do Distrito Federal, em 2009 na Universidade Federal de Santa Catarina, em 2010 na Universidade Federal de São Paulo e em 2011 na Universidade Federal da Bahia. Esses cursos formaram ao longo dos anos, 34 especialistas e já é possível observar um impacto positivo na pesquisa e na melhoria da organização dos serviços. (COSTI et al., 2013 apud ESPÍRITO SANTO, 2013, p. 11).
Referências
ALTMAN, S. Acupuncture therapy in small animal practice. The Compendium on Continuing Education for Practicing Veterinarian, v.19, n.11, p.1233- 1245, 1997.
ALVARENGA, A.T.; IORIO, R.C.; YAMAMURA, Y. Acupuntura no currículo médico: visão de estudantes de graduação em Medicina. Rev. Bras. Educ. Med., v.28, n.3, p.223-33, 2004. Acesso em 24/08/2017.
BUSSELL, J. The effect of acupuncture on working memory and anxiety. J Acupunct Meridian Stud, 6(5):241-6, 2013. Acesso em 22/08/2017.
CINTRA, Maria Elisa R.; FIGUEIREDO, Regina. Acupuntura e promoção da saúde: possibilidades no serviço público de saúde. Interface - Comunic., Saude, Educ., v.14, n.32, p.139-54, jan./mar. 2010. Acesso em 24/08/2017.
ESPÍRITO SANTO. Secretaria de Estado da Saúde do Espírito Santo. GRA / Núcleo de Normalização Coordenação de Práticas Integrativas e Complementares. Políticas de Práticas Integrativas e Complementares do Estado do Espírito Santo: Homeopatia, Fitoterapia/Plantas Medicinais, e Medicina Tradicional Chinesa/Acupuntura. Vitória, 2013.
GUARULHOS. Secretaria de Saúde. Política Municipal de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde. Guarulhos-SP, 2014.
____. Prefeitura de Guarulhos. Lei nº 6.356, de 19 de março de 2008. Dispõe sobre a implantação de terapias naturais na Secretaria Municipal da Saúde e dá outras providências. Publicada no Diário Oficial do Município nº 022 de 25 de março de 2008, p. 03. Acessado em 25/07/2015.
GENC, F.; TAN, M. The effect of acupressure application on chemotherapy-induced nausea, vomiting, and anxiety in patients with breast cancer. Palliat Support Care, 13(2), p. 275-284, abr. 2015. Acesso em 22/08/2017.
GOYATÁ, Sueli Leiko Takamatsu [et. al.]. Efeitos da acupuntura no tratamento da ansiedade: revisão integrativa. Revista Brasileira de Enfermagem, 69(3), p. 602-609, mai./jun., 2016. Acesso em 22/08/2017.
HADDAD-RODRIGUES, M, [et. al.]. Acupuncture for anxiety in lactating mothers with preterm infants: a randomized controlled trial. Evid Based Complement Alternat Med. 2013. Acesso em 22/08/2017.
LUZ, M.T. 1996. Estudo comparativo das medicinas ocidental contemporânea, homeopática, tradicional chinesa e ayurvédica em programas públicos de saúde. Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Instituto de Medicina Social, 1996. (Série Estudos em Saúde Coletiva , 140).
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PALMEIRA, Guido. A Acupuntura no Ocidente. Cadernos de Saúde Pública, 6(2), p. 117-128, abr./jun., 1990. Acesso em 23/08/2017.
RISTOL, E.G.-A. Acupuntura y neurología. Revista de Neurología (Barcelona), v.25, n.142, p.894-898, 1997.
SCOGNAMILLO-SZABÓ, Márcia Valéria R.; BECHARA, Gervásio H. Acupuntura: bases científicas e aplicações. Ciência Rural, Santa Maria, v. 31, n. 6, p. 1091-1099, 2001. Acesso em 21/08/2017.
____. Acupuntura: histórico, bases teóricas e sua aplicação em Medicina Veterinária. Ciência Rural, Santa Maria, v. 40, n. 2, p. 491-500, fev./2010. Acesso em 21/08/2017.
SOUSA, Islândia M. C.; VIEIRA, Ana L.S. Serviços públicos de saúde e medicina alternativa. Ciencia & Saude Coletiva, vol. 10, Supl 0, p. 255-66, set/dez, 2005. Acessado em 23/07/2015.
WANG, S.M.; KAIN, Z.N. Auricular acupuncture: a potential treatment for anxiety. Anesth Analg, 92(2), p. 548-53, fev. 2001.
WEN, T.S. Acupuntura clássica chinesa. 2.ed. São Paulo: Cultrix, 1989.
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