“A canoa da cura ninguém nunca rema só”: o "se ingerar" e os processos de adoecer e curar na cidade de Parintins (AM)
CORDEIRO, Maria Audirene de Souza. “A canoa da cura ninguém nunca rema só”: o se ingerar e os processos de adoecer e curar na cidade de Parintins (AM). Tese (Doutorado em Antropologia Social). Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social. Universidade Federal do Amazonas. Manaus, 2017.
RESUMO
A tese socializa os resultados da pesquisa etnográfica sobre as práticas não biomédicas de cura na zona urbana de Parintins (AM), desenvolvida de 2014 a 2016. O contato com esse universo permitiu o acesso a um conjunto diversificado de saberes sobre os processos de adoecer e curar do/no Baixo Amazonas. O diálogo entre a filosofia ameríndia e o pensamento filosófico dos “pós-modermos” permitiu o desvelamento de várias categorias nativas. Dentre elas, o se ingerar emergiu como um importante dispositivo na construção dos corpos, na instituição de acordos diplomáticos e de regras cosmopolíticas que asseguram a sociabilidade, a coabitação e a coexistência entre os/as gentes de cima e os bichos do fundo. Os(as) curadores(as) sacaca são os(as) escolhidos(as) pelos bichos para frequentar a escola da cura localizada no fundo. O processo de aprendizagem, ou ser amansado(a), capacita o(a) curador(a) sacaca a se ingerar e a capturar a potência (habilidades e capacidades) de seres animados e não animados para diagnosticar e tratar graves processos de adoecimento. O ingeramento, nesse sentido, é compreendido como dispositivo que captura do outro ou do meio em torno de si potencialidades; não como dispositivo apenas de transformação, mas de geração/propulsão de potencialidades; agenciador de devir e vetor de apreensão de afecções e afetamentos. Logo, dinamizador de alteridades ontológicas em fluxo. Neste estudo, o ingeramento é analisado como um dispositivo cosmo-ontológico, imanente ao modo de vida dos povos do Baixo Amazonas, capaz de assegurar a complexificação das atualizações das diferentes culturas indígenas, e não indígenas, instituindo cosmo-logias e onto-logias em fluxo, por meio de desterritorializações, reterritorializações e devires.
Palavras-Chave: Antropologia. Cosmologia. Cura. Baixo Amazonas
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