Tipos de Pesquisa quanto aos Procedimentos
Os procedimentos de uma pesquisa correspondem a maneira pela qual obtemos os dados necessários para a elaboração da pesquisa. Também pode ser chamado de delineamento da pesquisa (Gil, 1987, p. 71-78) e “refere-se ao planejamento da pesquisa em sua dimensão mais ampla, envolvendo diagramação, previsão de análise e interpretação de coleta de dados, considerando o ambiente em que são coletados e as formas de controle das variáveis envolvidas” (Prodanov; Freitas, 2013, p. 54). Quanto aos procedimentos as pesquisas se dividem em:
A pesquisa bibliográfica utiliza como base as teorias já publicadas em livros, artigos científicos, dissertações de mestrado, teses de doutorado. “Na pesquisa bibliográfica o investigador irá levantar o conhecimento disponível na área, identificando as teorias produzidas, analisando-as e avaliando sua contribuição para auxiliar a compreender ou explicar o problema objeto da investigação” (Köche, 2015, p. 122). A pesquisa bibliográfica ajuda a ampliar o conhecimento sobre um determinado objeto de pesquisa, a ter um maior domínio e conhecimento sobre o assunto, descrever o estado da arte, daquele momento, do tema em questão. A pesquisa bibliográfica faz parte de todos os procedimentos considerando que todos envolvem o estudo bibliográfico “pois todas as pesquisas necessitam de um referencial teórico. Para a pesquisa bibliográfica, é interessante utilizar as fichas de leitura, que facilitam a organização das informações obtidas” (Prodanov; Freitas, 2013, p. 55).
A pesquisa documental, à maneira da pesquisa bibliográfica, se atém a material impresso ou digital, com a diferença de que a pesquisa documental baseia-se em material ainda não publicado ou documentos oficiais como reportagens de jornais, relatórios de empresas, publicações em diários oficiais, fotografias. Na pesquisa documental, as fontes podem ser bem diversificadas. Além daquelas já mencionadas, temos: tabelas estatísticas, revistas, cartas, filmes, pinturas, vídeos de programa de televisão, arquivos públicos (das mais diferentes esferas de governo: municipais, estaduais e nacional), documentos oficiais (como leis, atas, ofícios etc.), documentos eclesiásticos, documentos jurídicos (tais documentos constituem uma rica fonte de dados).
A pesquisa experimental, como o próprio nome sugere, trabalha com a experimentação científica para observar um determinado fenômeno, analisar as variáveis envolvidas, construir hipóteses e corroborar (ou não) teorias.
A pesquisa experimental caracteriza-se por manipular diretamente as variáveis relacionadas com o objeto de estudo. Nesse tipo de pesquisa, a manipulação das variáveis proporciona o estudo da relação entre as causas e os efeitos de determinado fenômeno. Através da criação de situações de controle, procuramos evitar a interferência de variáveis intervenientes. Interferimos diretamente na realidade, manipulando a variável independente, a fim de observar o que acontece com a dependente. A pesquisa experimental estuda, portanto, a relação entre fenômenos, procurando saber se um é a causa do outro (Prodanov; Freitas, 2013, p. 57).
A pesquisa experimental também pode ser utilizada nas ciências humanas e sociais e, nesse caso, o pesquisador faz seu experimento no campo de pesquisa.
A pesquisa ex post facto, à maneira da pesquisa experimental, realiza procedimentos semelhantes ao da experiência, só que “depois dos fatos” e, via de regra, de modo espontâneo, já que o pesquisador não controla o experimento e o observa após ter sido concretizado. Diehl e Tatim (2004, p. 59) ressaltam como os procedimentos lógicos de delineamento da pesquisa ex-post-facto são semelhantes aos da pesquisa experimental, com a diferença de que no primeiro caso “são tomadas como situações experimentais situações que se desenvolveram naturalmente e trabalha-se sobre elas como se estivessem submetidas a controles”.
A pesquisa participante caracteriza-se pela interação entre o pesquisador e os sujeitos pesquisados. O pesquisador ao realizar o processo de observação participa, de alguma forma, no campo de pesquisa com o objeto investigado. Schmidt (2006) situa a pesquisa participante como uma variante da pesquisa etnográfica derivada da Antropologia (que veremos logo a seguir):
O termo participante sugere a controversa inserção de um pesquisador num campo de investigação formado pela vida social e cultural de um outro, próximo ou distante, que, por sua vez, é convocado a participar da investigação na qualidade de informante, colaborador ou interlocutor. Desde as primeiras experiências etnográficas, pesquisador e pesquisado foram, para todos os efeitos, sujeitos e objetos do conhecimento e a natureza destas complexas relações estiveram, e estão, no centro das reflexões que modelam e matizam as diferenças teórico-metodológicas (Schmidt, 2006, p. 14).
A pesquisa ação tem a mesma característica da pesquisa participante, ou seja, se baseia na interação pesquisador-pesquisado, envolvidos de modo cooperativo e participativo, e “concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo” (Diehl, Tatim, 2004, p. 62).
Michel Thiollent (1999), autor de referência no debate sobre metodologias qualitativas em ciências humanas, faz a distinção entre pesquisa participante e pesquisa-ação, valendo-se desta identificação da pesquisa participante com o modelo da observação participante praticado nas experiências inaugurais da investigação antropológica e etnográfica. Assim, se, por um lado, a pesquisa-ação constitui-se num tipo de pesquisa participante porque, em alguma medida, se serve da observação participante “associada à ação cultural, educacional, organizacional, política ou outra”, por outro, dela se separa quando focaliza “a ação planejada, de uma intervenção com mudanças dentro da situação investigada”, priorizando a participação do pólo pesquisado (Thiollent, 1999, pp. 83-84 apud Schmidt, 2006, p. 17).
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A pesquisa etnográfica tem origem na Etnografia (do grego ethnos, que significa nação e/ou povo e graphein, que significa escrita) e na Antropologia Social, onde o principal foco é o estudo da cultura e o comportamento de determinados grupos sociais, que envolve um exame aprofundado (intenso e prolongado) de tais comportamentos, costumes, crenças, entre outras coisas compartilhadas dentro daquela comunidade e que por isso consolidou a pesquisa participante como disciplina científica. Baseia-se no contato inter-subjetivo entre o pesquisador e o seu objeto, seja ele um grupo indígena ou qualquer outro grupo social sob o qual o recorte analítico seja feito. O etnógrafo se envereda em uma cultura ou situação social para explorar, coletar e analisar dados.
Bronislaw Malinowski marcou a história da antropologia moderna ao escrever em 1922 o clássico estudo Os Argonautas do Pacífico Ocidental. Outros autores se destacam no campo da pesquisa etnográficas como: Gregory Bateson, James Clifford (2002), Clifford Geertz, Eduardo Viveiros de Castro.
O estudo de caso é um estudo profundo e exaustivo de um objeto específico ou, no máximo, de alguns poucos objetos de modo a permitir uma compreensão mais detalhada sobre um determinado fenômeno. O estudo de caso tem a limitação de impossibilitar uma maior generalização sobre um determinado fenômeno, já que se limita a estudar um ou poucos objetos. “O estudo de caso consiste em coletar e analisar informações sobre determinado indivíduo, uma família, um grupo ou uma comunidade, a fim de estudar aspectos variados de sua vida, de acordo com o assunto da pesquisa” (Prodanov; Freitas, 2013, p. 60).
A principal dificuldade do estudo de caso está na possibilidade de generalização. Como este estudo se detém em um único caso ou um pequeno grupo, não fornece bases sólidas para uma generalização científica. “O maior risco do estudo de caso único é que a explicação cientifica mostre-se frágil, devido a possíveis incidências de fenômenos encontrados apenas no universo pesquisado, o que pode comprometer a confiabilidade dos achados da pesquisa” (Prodanov; Freitas, 2013, p. 62).
A pesquisa por meio de levantamentos (ou survey) “se caracterizam pela interrogação direta das pessoas cujo comportamento se deseja conhecer [...] procede-se à solicitação de informações a um grupo significativo de pessoas do problema estudado” (Gil, 1989, p. 76) a partir das quais se reflete sobre os dados, mediante análise quantitativa, para se chegar a uma conclusão. Os levantamentos são mais adequados para estudos descritivos do que para explicativos.
Como pontua Gil (2008a, p. 121), considera-se a necessidade da amostragem nos levantamentos: “o mais frequente é trabalhar com uma amostra, ou seja, com uma pequena parte dos elementos que compõem o universo”. O campo de pesquisa das ciências sociais abrange um universo de elementos tão grande que se torna impossível estudá-las na sua totalidade, por isso, recomenda-se o uso da amostra, que representa parte da população conhecida que serve para fazer análise inferencial sobre as características de todos. Existem diferentes tipos de amostragem, dentre as quais destacamos: 1) amostragem por acessibilidade: “O pesquisador seleciona os elementos a que tem acesso, admitindo que estes possam, de alguma forma, representar o universo. Aplica-se este tipo de amostragem em estudos exploratórios ou qualitativos, onde não é requerido elevado nível de precisão” (GIL, 2008b, p. 94); 2) amostragem não-probabilística: que não apresenta fundamentação matemática ou estatística, dependendo unicamente de critérios do pesquisador; 3) amostragem intencional: consiste em selecionar um subgrupo da população que, com base nas informações disponíveis, possa ser considerada representativa de toda população.
O estudo de campo consiste na observação de fatos, fenômenos e na coleta de dados a eles referentes para analisá-los. Como primeiro passo, a pesquisa de campo requer a realização de uma pesquisa bibliográfica sobre o tema em questão e que permita estabelecer um modelo teórico inicial de referência. Em seguida, após definir a natureza da pesquisa, deve-se determinar as técnicas que serão empregadas na coleta de dados e na definição da amostra para realizar a análise e apoiar as conclusões.
Os estudos de campo têm semelhanças e diferenças quando comparado com os levantamentos. Dentre as diferenças pode-se destacar que o estudo de campo tende a utilizar mais técnicas de observação do que de interrogação. Além disso,
"Primeiramente, os levantamentos procuram ser representativos de um universo definido e fornecer resultados caracterizados pela precisão estatística” (GIL, 2008, p. 57). Em relação aos estudos de campo, “procuram muito mais o aprofundamento das questões propostas do que a distribuição das características da população segundo determinadas variáveis.” (GIL, 2008, p. 57). Como consequência, o planejamento do estudo de campo apresenta muito mais flexibilidade, podendo ocorrer mesmo que seus objetivos sejam reformulados ao longo do processo de pesquisa (Prodanov; Freitas, 2013, p. 59).