Tipos de Pesquisa quanto ao Método

17/08/2024 10:08

 

            Quanto ao método científico utilizado nas ciências sociais, Gil (1987, p. 28-36) divide em gerais e específicos

        Dentre os métodos gerais estão o método hipotético dedutivo (aos quais é preciso acrescentar o método indutivo e dedutivo, próprios das ciências naturais, sendo que o método hipotético dedutivo pode ser considerado como uma tentativa de superar ou conciliar os métodos indutivo e dedutivo), o método dialético e fenomenológico. Vamos iniciar pelos métodos gerais.

            O método indutivo foi defendido como o método mais adequado ao conhecimento científico pelo filósofo inglês Francis Bacon e ganhou destaque com o empirismo da escola inglesa e as descobertas dos fenômenos e leis da física empreendidas por Galileu Galilei. O método indutivo coloca a observação dos fenômenos como o ponto de partida para a investigação científica e a elaboração de hipóteses. Da observação de casos particulares, pretende-se construir uma teoria geral. “De acordo com o raciocínio indutivo, a generalização não deve ser buscada aprioristicamente, mas constatada a partir da observação de um número de casos concretos suficientemente confirmadores da suposta realidade” (GIL, 1989, p. 29).

            No método indutivo, podemos determinar as seguintes etapas: 1) parte-se da observação de fatos ou fenômenos cujas causas deseja-se conhecer; 2) procura-se compará-los com a finalidade de descobrir as relações existentes entre eles; 3) finalmente, procede-se à generalização, com base na relação verificada entre os fatos ou fenômenos.

            O método dedutivo parte de uma teoria que se pretende geral para só então realizar a observação de casos particulares e, assim, testar a teoria. O método dedutivo parte de princípios, leis ou teorias gerais, consideradas verdadeiras e, a partir de então, procura predizer a ocorrência de casos particulares, por intermédio de uma cadeia de raciocínios em ordem descendente.

O método dedutivo encontra ampla aplicação em ciências como a Física e a Matemática, cujos princípios podem ser enunciados como leis. Já nas ciências sociais, o uso desse método é bem mais restrito, em virtude da dificuldade para obter argumentos gerais, cuja veracidade não possa ser colocada em dúvida (Prodanov; Freitas, 2013, p. 27).

            O método dedutivo procede inversamente ao método indutivo: parte do geral para o particular, ou seja, a coleta de dados particulares é uma etapa posterior à dedução de princípios ou teorias.

Tanto o método indutivo quanto o dedutivo concordam com o fato de que o fim da investigação é a formulação de leis para descrever, explicar e prever a realidade; as discordâncias estão na origem do processo e na forma de proceder. Enquanto os adeptos do método indutivo (empiristas) partem da observação para depois formular as hipóteses, os praticantes do método dedutivo têm como inicial o problema (ou a lacuna) e as hipóteses que serão testadas pela observação e pela experiência (Prodanov; Freitas, 2013, p. 30).

            Temos ainda o método hipotético-dedutivo que, como dissemos, pode ser considerado, como sugere Gil (1989, p. 28), como uma tentativa de superar os métodos indutivo e dedutivo. No método hipotético-dedutivo as teorias criadas se apresentam como modelos hipotéticos ideais que devem ser rigorosamente testados através da experimentação científica, que podem validar (ou não) a teoria inicial, como podemos perceber na imagem abaixo:

(Köche, 2015, p. 70).

            Como pondera Köche (2015, p. 72), apoiado nos trabalhos de Karl Popper, a “ciência não é a mera observação de fenômenos [...] A percepção de problemas é uma percepção impregnada de fundo teórico”. Ao identificar um problema que pode ser tratado de maneira científica, o pesquisador começa a conjecturar sobre possíveis soluções e alternativas para explicá-lo. Nesse momento a hipótese está sendo elaborada de forma dedutiva e depende “da capacidade criativa de propor ideias que sirvam de hipóteses, de soluções provisórias que deverão ser confrontadas com os dados empíricos através de uma testagem” (id., ibidem, p. 72).

        As teorias são construídas, em primeiro lugar, no cérebro do investigador e não obedecem, necessariamente, a nenhuma regra lógica formal, senão aquelas regras próprias da imaginação criativa da mente do pesquisador. Mas uma vez elaborada a teoria, é preciso seguir uma lógica de validação da hipótese, através da experimentação.

            Podemos fazer uma distinção entre o método dedutivo e o método hipotético-dedutivo considerando que este é geralmente associado as ideias do filósofo Karl Popper, que propõe a teoria do falsificacionismo ou, em outras palavras, a ideia de que formuladas as hipóteses sobre um determinado problema ou teoria, estas devem ser testadas com o objetivo de torná-las falsas. Se a hipótese resistir aos testes de falseamento a teoria continua verdadeira, senão, uma vez tornada falsa, deixa de ser válida a teoria.

            Popper definiu o método hipotético-dedutivo a partir das críticas à indução, expressas na sua obra de 1935: A lógica da investigação científica. O indutivismo, segundo Popper, não pode fazer generalizações, por mais que tenha observado um grande número de casos particulares, porque sempre haverá a possibilidade de um único caso contrariar uma teoria. Por isso, ao invés de generalizações, deve-se formular hipóteses, que devem ser testadas ou passíveis de serem falseadas, procurando evidências empíricas que possam contradizer a hipótese. A fase da experiência é, portanto, a fase de teste da teoria ou hipótese.

Prodanov e Freitas (2013, p. 33) propõem a seguinte imagem como etapas do método hipotético-dedutivo, adaptado de Lakatos e Marconi (2007, p. 96)

 

 

             O método dialético se baseia nas ideias do filósofo alemão Hegel, depois reformuladas por Karl Marx que, empregado na pesquisa qualitativa, parte do pressuposto de que todos os fenômenos apresentam características contraditórias organicamente unidas, sendo também “um método de interpretação dinâmica e totalizante da realidade, pois considera que os fatos não podem ser relevados fora de um contexto social, político, econômico etc.” (Prodanov; Freitas, 2013, p. 34).

          Aplicado às ciências sociais, o método dialético se baseia em pelo menos três princípios (GIL, 1989, p. 32): o princípio da unidade e da luta dos contrários, segundo o qual os aspectos contraditórios do real (luta dos contrários) se apresentam organicamente unidos (unidade); o princípio da transformação das mudanças quantitativas em qualitativas segundo o qual a quantidade e a qualidade “são características imanentes a todos os objetos e fenômenos, e estão inter-relacionados” (GIL, 1989, p. 32) e onde as mudanças quantitativas geram mudanças qualitativas; o princípio da negação da negação, segundo o qual certos aspectos do estágio inferior são repetidos em estágios superiores.

            A dialética privilegia as mudanças (as transformações que ocorrem por meio de contradições) qualitativas e opõe-se a qualquer modo de pensar em que a ordem quantitativa se torne norma e, por isso, distinguem-se das pesquisas desenvolvidas segundo a visão positivista, que enfatiza os procedimentos quantitativos. Mas não se trata de negar as mudanças quantitativas pois, como tudo está em movimento, há dois polos (tese e antítese) que se transformam um no outro, sendo que essas transformações são qualitativas e quantitativas.

Em síntese, o método dialético parte da premissa de que, na natureza, tudo se relaciona, transforma-se e há sempre uma contradição inerente a cada fenômeno. Nesse tipo de método, para conhecer determinado fenômeno ou objeto, o pesquisador precisa estudá-lo em todos os seus aspectos, suas relações e conexões, sem tratar o conhecimento como algo rígido, já que tudo no mundo está sempre em constante mudança (Prodanov; Freitas, 2013, p. 35).

            O método fenomenológico se baseia nas ideias do filósofo alemão Edmund Husserl que critica a objetividade presente nas ciências empíricas e afirma que nada pode ser pensado fora da consciência, pois a consciência do sujeito (daí a ênfase na subjetividade) é doadora de sentido da realidade. O método fenomenológico, como o próprio nome sugere, procura analisar o fenômeno, ou seja, o objeto, a partir da forma como ele é apresentado para a consciência, em outras palavras, parte da premissa fundamental de que é preciso avançar na direção do próprio fenômeno, entendido como algo que é dado a perceber pela consciência. Para  mais detalhes sobre o método dialético e fenomenológico, veja em nosso site o texto: Epistemologia e Ciências Sociais/Política.

            Os métodos específicos (também chamados de métodos de abordagem) são etapas da investigação e “estão relacionados com os procedimentos técnicos a serem seguidos pelo pesquisador dentro de determinada área de conhecimento” (Prodanov; Freitas, 2013, p. 36).

          Uma investigação pode acontecer utilizando mais de um método. Não é necessário que apenas um método seja adotado. “Com frequência, dois ou mais métodos são combinados. Isso porque nem sempre um único método é suficiente para orientar todos os procedimentos a serem desenvolvidos ao longo da investigação” (Prodanov; Freitas, 2013, p. 36). Dentre os métodos específicos mais adotados nas ciências sociais temos: o histórico, o experimental, o observacional, o comparativo, o estatístico, o clínico e o monográfico.

            O método histórico, como o próprio nome sugere, tem como objetivo a investigação de acontecimentos ou instituições do passado, ou seja, da História. Já no método experimental submete-se o objeto de estudo à influência das variáveis da pesquisa para observar os seus resultados e a partir de então chegar as conclusões. O método experimental “pode ser considerado como o método por excelência das ciências naturais” (Prodanov; Freitas, 2013, p. 37). O método observacional propõe a observação do fenômeno sem submetê-lo a qualquer tipo de influência, no que difere do método experimental. O método observacional é um dos mais utilizados nas ciências sociais e “podemos afirmar que qualquer investigação em ciências sociais deve se valer, em mais de um momento, de procedimentos observacionais” (Prodanov; Freitas, 2013, p. 37).

            O método comparativo propõe um estudo comparando diferentes grupos de indivíduos, culturas, fenômenos, fatos ou padrões de comportamento. “Centrado em estudar semelhanças e diferenças, esse método realiza comparações com o objetivo de verificar semelhanças e explicar divergências” (Prodanov; Freitas, 2013, p. 38). O método estatístico “fundamenta-se na aplicação da teoria estatística da probabilidade e constitui importante auxílio para a investigação em ciências sociais” (GIL, 1989, p. 36), através do qual é possível determinar a probabilidade de acerto (nunca uma certeza absoluta), para que um determinado fenômeno ocorra. “O papel do método estatístico é, essencialmente, possibilitar uma descrição quantitativa da sociedade [...] possibilita-se determinar, em termos numéricos, a probabilidade de acerto de determinada conclusão, bem como a margem de erro de um valor obtido” (Prodanov; Freitas, 2013, p. 38). O método clínico é próprio da psicologia e psicanálise e apoia-se em uma estreita relação entre o pesquisador e o objeto pesquisado, no caso, o paciente. O método monográfico é um aprofundamento do estudo de um caso considerando que este pode ser considerado representativo de muitos outros ou mesmo de todos os casos semelhantes. “Esses casos podem ser indivíduos, instituições, grupos, comunidade etc. Nessa situação, o processo de pesquisa visa a examinar o tema selecionado de modo a observar todos os fatores que o influenciam, analisando-o em todos os seus aspectos” (Prodanov; Freitas, 2013, p. 38).