Tempo e Trabalho
Alma amiga, houve época, na humanidade, em que o trabalho era considerado uma punição de Deus. Na Bíblia, encontramos a maldição divina a Adão de conquistar o pão com o suor do seu rosto. Durante alguns milênios, os homens escravizaram e puseram em trabalhos forçados seus inimigos vencidos em combates sangrentos. O trabalho, entretanto, ainda que seja considerado como expiação, é também instrumento de aperfeiçoamento.
Olavo Bilac foi cognominado Príncipe dos Poetas Brasileiros, em concurso realizado pela revista Fon-Fon, de 1.º de março de 1913. É dele este belo soneto intitulado O Tempo:
Sou o tempo que passa, que passa,
Sem princípio, sem fim, sem medida!
Vou levando a Ventura e a Desgraça,
Vou levando as vaidades da vida!
A correr de segundo em segundo,
Vou formando os minutos que correm...
Formo as horas que passam no mundo,
Formo os anos que nascem e morrem.
Ninguém pode evitar os meus danos...
Vou correndo sereno e constante:
Desse modo, de cem em cem anos
Formo um século, e passo adiante.
Trabalhai, porque a vida é pequena,
E não há para o tempo demoras!
Não gasteis os minutos sem pena!
Não façais pouco caso das horas!
Refletindo, porém, no que o poeta diz sobre o tempo, calculado em segundos, minutos, horas, anos e séculos, concluímos que esse tempo proposto para bom aproveitamento no trabalho é o tempo do homem na Terra. Nesse caso, pensamos, como seria o tempo de Deus com bom proveito por nós? Então, em nossos devaneios literários, inspirado no poema de Bilac, escrevemos o poema abaixo, que intitulamos como o Tempo de Deus:
Eu sou tempo divino da graça,
Que jamais teve início, nem fim...
E no espaço da hora que passa,
Muita história já passou por mim.
Nos poetas, filósofos, santos
O que passa são seus pensamentos.
Eu registro essas vozes, no entanto,
Muitas delas se vão como o vento...
Sou eterno presente no espaço,
Tanto quanto o passado e o futuro,
Vou além do espaço que traço,
Tudo vejo do verde ao maduro...
Vive em mim o eterno devir,
Antevisto, por dentro e por fora,
Como tempo de amar e servir
No trabalho da obra de agora.
Finalizo com esta bela frase do Espírito Abel Gomes, publicada na obra Falando à Terra, psicografada por Chico Xavier, sob o título: Notícias: “À maneira que nos desenvolvemos em sabedoria e amor, consideramos a perda dos minutos como sendo a mais lastimável e ruinosa de todas”.
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Sobre o Autor
Jorge Leite de Oliveira é
Consultor Legislativo aposentado da CLDF. Formação acadêmica: Bacharel em Direito (Advogado, OAB/DF 16922); grad. em Letras (UniCEUB); pós-grad. em Língua Portuguesa(CESAPE/DF) e em Literatura Brasileira (UnB); Mestre em Literatura e Doutor em Literatura pela UnB. Professor de Língua Portuguesa, Redação, Orientação de Monografia, Literatura e Pesquisas, no UniCEUB, de 1º set. 1988 a 1º jul. 2010. Palestrante, escritor, revisor e articulista espírita. Autor do Blog: <jojorgeleite.blogspot.com/>.
Autor dos livros:
1. Texto acadêmico: técnicas de redação e de pesquisa científica. 10. ed. 1. reimp. Petrópolis, RJ: Vozes, 2019.
2. Guia prático de leitura e escrita. 3. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2015.
3. Chamados de Assis: espaços fantásticos do Rio mutante na obra machadiana. Curitiba, PR, 2018.
4. Da época de estudante de Letras: edição esgotada: Mirante: poesias. Brasília: Ed. do autor, 1984.
5. Texto técnico: guia de pesquisa e de redação. 3. ed. rev., ampl. e melhorada. Brasília: abcBSB, 2004 (também esgotada).
Contato:
jojorgeleite@gmail.com