Saúde!

26/07/2023 18:38

            Quando eu era menino, no Rio de Janeiro, toda vez que alguém da família espirrava, papai dizia: — Saúde!

            Cresci com esse hábito e, sempre que minha esposa espirra, eu grito do meu escritório: — Saúde! Isso porque agora estamos sós, pois os filhos já se casaram, deram-nos seis netos, mas o procedimento é o mesmo, se qualquer deles ou outrem espirrar e eu ouvir.

            A saúde é um bem tão precioso, que em 1947 a Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu-a como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença”.

            Para nós, espíritas, a mente nada mais é do que a manifestação da alma no comando do corpo, seja ele físico ou perispirítico, que é a parte do ser integral: espírito, perispírito e físico. Então, esse conceito da OMS, no meu entendimento, é perfeito.

            E quem nos auxilia na manutenção do corpo e da mente com saúde é o médico. Seu juramento, cujo autor foi Hipócrates, nascido em 460 a.C. na Grécia, atualmente foi bastante modificado e mesmo dispensado por algumas faculdades de medicina.  Resume-se ao seguinte:

“Juro por Apolo, médico, e por Esculápio, por Hygeia, por Panaceia, e por todos os deuses e deusas, constituindo-os juízes de como, na medicina das minhas forças e do meu juízo, haverei de fazer executado o seguinte juramento e o seguinte compromisso: [...] Passarei a minha vida e praticarei a minha arte pura e santamente [...]. Em quantas casas entrar, fá-lo-ei só para a utilidade dos doentes, abstendo-me de todo o mal voluntário e de toda voluntária maleficência e de qualquer outra ação corruptora [...]. O que quer que veja ou ouça, concernente à vida das pessoas, no exercício da minha profissão ou fora dela, e que não haja necessidade de ser revelado, eu calarei, julgando que tais coisas não devem ser divulgadas [...].”

            Segundo o professor Sandoval[1], a Declaração de Genebra adotada pela Associação Médica Mundial, inspirada no Juramento de Hipócrates e com sua redação aprovada em 1936, começa assim:

“Prometo solenemente consagrar a minha vida a serviço da humanidade. Darei aos meus mestres o respeito e o reconhecimento que lhes são devidos. Exercerei a minha arte com consciência e dignidade. A saúde do meu doente será a minha primeira preocupação.”

            Destaco a conclusão de Sandoval sobre a base do juramento hipocrático: “Portanto, o importante, mesmo que haja versão reduzida, que se mantenha o cerne dos princípios e das regras éticas contidos no Juramento de Hipócrates constantes de seu original, princípios e regras éticas que permanecem atuais, apesar de decorridos 2.600 anos”.

            Infelizmente, porém, atualmente, há profissionais da medicina que não são fiéis ao Juramento de Hipócrates, mas reféns do ganho fácil com a medicina. Então, ignoram ou desprezam o conceito de saúde no seu atendimento médico. Por isso, sugerimos-lhes que coloquem sobre sua mesa ou parede do consultório ou ainda num chaveirinho, para leitura e prática diária, as primeiras frases do texto do juramento hipocrático supracitado.

            O médico que atente para o conceito atual de saúde, à luz da ética, precisa observar clinicamente tanto a doença da alma quanto a do corpo físico do seu paciente. Para isso, deve colocar-se no lugar de quem o procure por um mal orgânico, que reflete também o estado espiritual do seu paciente. É o que entendemos quando lemos o conceito de saúde da OMS e do Juramento de Hipócrates, que pode ser lido integralmente na versão aprovada pela Associação Médica Mundial em 1936.

            Só o fato de ser tratado com dignidade e respeito já auxilia, em boa parte, no bem-estar do doente. Desse modo, independentemente de quem espirre, o bom médico agirá como verdadeiro apóstolo divino, no tratamento do seu paciente, após dizer-lhe: — Saúde!



[1] SANDOVAL, Ovídio Rocha Barros. O Juramento de Hipócrates. Disponível em www.fmrp.usp.br (Faculdade de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo), 24 de abril de 2019. Acesso em 19.7.2023.

 

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Sobre o Autor

Jorge Leite de Oliveira é

Consultor Legislativo aposentado da CLDF. Formação acadêmica: Bacharel em Direito (Advogado, OAB/DF 16922); grad. em Letras (UniCEUB); pós-grad. em Língua Portuguesa(CESAPE/DF) e em Literatura Brasileira (UnB); Mestre em Literatura e Doutor em Literatura pela UnB. Professor de Língua Portuguesa, Redação, Orientação de Monografia, Literatura e Pesquisas, no UniCEUB, de 1º set. 1988 a 1º jul. 2010. Palestrante, escritor, revisor e articulista espírita. Autor do Blog: <jojorgeleite.blogspot.com/>.

Autor dos livros:

1. Texto acadêmico: técnicas de redação e de pesquisa científica. 10. ed. 1. reimp. Petrópolis, RJ: Vozes, 2019.

2. Guia prático de leitura e escrita. 3. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2015.

3. Chamados de Assis: espaços fantásticos do Rio mutante na obra machadiana. Curitiba, PR, 2018.

4. Da época de estudante de Letras: edição esgotada: Mirante: poesias. Brasília: Ed. do autor, 1984.

5. Texto técnico: guia de pesquisa e de redação. 3. ed. rev., ampl. e melhorada. Brasília: abcBSB, 2004 (também esgotada).

 

Contato:

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