Por que se lê tão pouco no Brasil?

28/02/2024 18:44

        Alma amiga. Não me considero um leitor voraz, do tipo que lê tudo que vê pela frente, como todo o conteúdo de bula de remédio. Até porque, certa vez, ao ler uma bula de medicamento receitado por jovem dermatologista, deparei-me com a seguinte informação: “Este medicamento pode provocar alucinações e até mesmo o desejo de suicidar-se”.

        Fiquei tão estarrecido com o que li que suspendi imediatamente o uso do produto, antes mesmo de testá-lo como solução para minha urticária crônica. Voltei à doutora que o receitara e lhe pedi que tentasse outro tratamento. A reação da profissional da medicina não foi muito boa. Ei-la:

        — Bem, senhor, se não está satisfeito com meu tratamento, procure outro dermatologista. Não quero mais atendê-lo, pois já tenho meus pacientes... Pegue a guia de seu fundo de saúde e passe bem.

        E fiquei pensando se era eu o que precisava de psiquiatra ou era a doutora. Talvez se a consulta fosse particular... Mas isso é outra história.

        Conto este caso, que já devo tê-lo contado antes, por ter lido no Quora alguns argumentos que considero consistentes, postados por Alessandro Vieira dos Reis em resposta à questão sobre a pouca leitura dos brasileiros. É verdade que talvez ele haja esquecido que os livros estão “pela hora da morte”, mas há muitos sebos e bibliotecas à disposição do cidadão ou cidadã mais modestos financeiramente. Sem falar, por exemplo, nos e-books e periódicos gratuitos, como os que nos oferece o amigo Astolfo O. de Oliveira Filho (lista abaixo), bastando, para acessá-los, clicar nos links indicados:

 

1.  blog Espiritismo Século XXI – https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com.br/

2.  revista O Consolador - https://www.oconsolador.com  

3.  editora EVOC - https://www.oconsolador.com.br/editora/evoc.htm  

4.  jornal O IMORTAL - https://www.jornaloimortal.com.br/Home

5.  perfil no Facebook - https://www.facebook.com/astolfoolegario.oliveirafilho

Dicionário Aulete – https://www.aulete.com.br/dignat%C3%A1rio

 

        O nobre Alessandro começa respondendo que a obsessão doentia do brasileiro por valorizar a “humildade” é uma das causas de seu desinteresse literário. No Brasil, diz ele, se alguém sabe um pouco mais do que seus conhecidos, é considerado “arrogante por falar bem, conseguir expressar suas ideias, resolver problemas”.

        O articulista citado faz outras considerações interessantes, mas considero boas as seguintes: a leitura, vista historicamente em nosso país, era predominante entre padres e advogados. Os demais profissionais com formação universitária restringiam-se a ler o que lhes interessava nos manuais técnicos.

        Isso me faz lembrar o que disse o famoso e cultíssimo arquiteto Oscar Niemeyer, conhecido internacionalmente: — Os jovens arquitetos não gostam de ler outra coisa que não seja sobre arquitetura.

        É verdade. Se o assunto muda, por exemplo, para filosofia, história, psicologia e artes, a ignorância é grande. Conheci um jovem doutor, formado em história, que torcia por um time de grande torcida, cuja conversa restringia-se a futebol. No quarto de sua casa, como ele tinha prazer em postar, víamos bandeiras do time, móveis com fotos de jogadores e de conquistas futebolísticas, bandeiras... tudo ali até, pasmem, os livros eram sobre a história do seu time.

        Faz sentido, não é mesmo, amigo leitor? Afinal, o citado doutor era historiador.

        Vou encerrar com algumas conclusões parafraseadas do articulista do Quora. Quando alguém se depara com quem gosta de ler ou vê muitos livros em sua estante costuma perguntar:

        — Por que você tem tantos livros? Vai ler todos?

        — Para que lhe serve tanta leitura?

        — Tudo que sei aprendi na universidade da vida. Não existe nada que presta nos livros.

        E, no entanto, este último nunca leu um só livro em toda a sua vida.

        Isso só vai mudar quando, no Brasil, a profissão de  professor não mais precisar ser “bico”, a formação escolar for da mais alta qualidade e as cadeias forem substituídas por frentes de trabalho seguras, com valorização da mão de obra e... incentivo a boas leituras, desde o lar às universidades. Países que investiram nisso saíram dos últimos para os primeiros lugares em segurança e desenvolvimento socioeconômico.

 

 

Espiritualidade e PolíticaEspiritualidade → Crônicas Espíritas → Por que se lê tão pouco no Brasil?

Sobre o Autor

Jorge Leite de Oliveira é

Consultor Legislativo aposentado da CLDF. Formação acadêmica: Bacharel em Direito (Advogado, OAB/DF 16922); grad. em Letras (UniCEUB); pós-grad. em Língua Portuguesa(CESAPE/DF) e em Literatura Brasileira (UnB); Mestre em Literatura e Doutor em Literatura pela UnB. Professor de Língua Portuguesa, Redação, Orientação de Monografia, Literatura e Pesquisas, no UniCEUB, de 1º set. 1988 a 1º jul. 2010. Palestrante, escritor, revisor e articulista espírita. Autor do Blog: <jojorgeleite.blogspot.com/>.

Autor dos livros:

1. Texto acadêmico: técnicas de redação e de pesquisa científica. 10. ed. 1. reimp. Petrópolis, RJ: Vozes, 2019.

2. Guia prático de leitura e escrita. 3. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2015.

3. Chamados de Assis: espaços fantásticos do Rio mutante na obra machadiana. Curitiba, PR, 2018.

4. Da época de estudante de Letras: edição esgotada: Mirante: poesias. Brasília: Ed. do autor, 1984.

5. Texto técnico: guia de pesquisa e de redação. 3. ed. rev., ampl. e melhorada. Brasília: abcBSB, 2004 (também esgotada).

 

Contato:

jojorgeleite@gmail.com