Passe Somente no Centro Espírita? Que é isso?
Ainda hoje, alma irmã, recebi ligação de Porto Alegre, RS. Era um sobrinho querido, que aderiu ao Espiritismo há anos e frequenta um centro espírita onde é passista.
Diz ele que sua sogra, a quem quer muito bem, está hospitalizada com problema cardíaco e que ele irá fazer-lhe companhia por dois ou três dias, em revezamento com a esposa dele, que já acompanhou a mãe em período semelhante e precisa descansar. Estava com uma dúvida atroz, como passista, se podia ou não orar e aplicar passes na doente. O motivo da pergunta devia-se a ter sido recomendado, na casa espírita que frequenta, para nenhum dos seus passistas aplicar passes fora daquele local.
Provavelmente, disse-lhe eu, a recomendação devia-se aos cuidados que devemos ter com os adeptos de outras crenças ou descrentes, quando estamos fora do local destinado aos passes, na casa espírita. Mas o passe é uma terapêutica espiritual aplicada pelo próprio Cristo, nas curas que realizou, em diversos locais.
O que é preciso é perguntar se a pessoa aceita ou não a imposição simples da mão, sem contato, sobre sua cabeça enquanto oramos por ela. Caso percebamos que a pessoa se sente incomodada, devemos nos abster de impor-lhe as mãos e nos contentarmos em orar em seu benefício, mas em geral raras são as pessoas que rejeitam o passe.
Expliquei-lhe que eu mesmo já apliquei diversos passes em minha cunhada católica em sua casa. E ela, embora sendo católica, sempre manifestou interesse nesse tratamento magnético, acompanhado de oração.
Acredito mesmo que até os ateus, no momento de grave doença, “pelo sim, pelo não”, não rejeitariam o passe. Caso o dispensem, podemos orar por eles à distância do local. Costuma-se dizer que, no momento de risco de sua vida, ninguém é ateu.
Esta orientação de Gurgel ao passista iniciante é muito importante, por isso a cito abaixo:
“O passista não é, e não poderia ser, uma exceção a esta lei maior de responsabilidade individual. Também aqui, ao habilitar-se à condição de obreiro da fraternidade e do auxílio, ele torna-se devedor, perante o próximo, da sua contribuição de paz, amor e luz, em especial junto dos que padecem a desesperança, a angústia, a descrença, a dor física e o sofrimento moral[1].”
Com relação ao local do passe, embora confirmando que o melhor local para ele é o Centro Espírita, Jacob Melo[2] esclarece que é preciso usar o bom senso e a razão, mas que também tanto o Espírito André Luiz quanto Philomeno de Miranda nos esclarecem, o primeiro, que “as necessidades físicas e morais” devem ser atendidas “dentro dos recursos ao nosso alcance”; o segundo, que o espírita, realmente consciente [...] armado do escudo da caridade e protegido pela superior inspiração que haure na prece, [parte] para o serviço no lugar em que se faz necessário, onde dele precisam”[3].
Jacob Melo[4] diz que fora da casa espírita o passista deve, em primeiro lugar, estar certo de que o ambiente seja calmo, sem agitação de pessoas e que haja recolhimento silencioso. Esclarecer aos envolvidos, quando for o caso, quando o passe for na casa do necessitado, que sua situação é excepcional, mas que o local ideal para o benefício do passe é o centro espírita.
Em síntese, embora se recomende local apropriado, na casa espírita, para o passe, “Guardar-se da tarefa abençoada de servir é mais que egoísmo, é irresponsabilidade que, com certeza, trará, mais tarde, consequências dolorosas e tristonhas”[5].
O que não se deve, também, é aplicar o passe com movimentos bruscos, espalhafatosos, respiração ofegante. Basta que se faça uma oração, se possível acompanhada pelo paciente, ao tempo em que se impõem as mãos a cerca de 10cm sobre sua cabeça, que não deve ser tocada.
Termino com a frase de André Luiz, citada por JACOB MELO: “Proibir ruídos quaisquer, baforadas de fumo, vapores alcoólicos, tanto quanto ajuntamento de gente ou a presença de pessoas irreverentes e sarcásticas, nos recintos para assistência espiritual”[6]. No momento do passe, passista e doente devem manter-se mentalmente em prece que não seja muito longa. Um Pai Nosso já é suficiente.
Paz e luz!
[1] GURGEL, L. C. de Melo. O Passe Espírita. 6. ed. Brasília: FEB, 2015, p. 152.
[2] MELO, Jacob. O passe, seu estudo, suas técnicas, sua prática. 1. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1992, p. 163.
[3] GURGEL, L. C. de Melo. Op. cit., loc. cit.
[4] MELO, Jacob. Op. cit., p. 162.
[5] GURGEL, L. C. de Melo. Op. cit., loc. cit.
[6] MELO, Jacob. Op. cit., p. 162.
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Sobre o Autor
Jorge Leite de Oliveira é
Consultor Legislativo aposentado da CLDF. Formação acadêmica: Bacharel em Direito (Advogado, OAB/DF 16922); grad. em Letras (UniCEUB); pós-grad. em Língua Portuguesa(CESAPE/DF) e em Literatura Brasileira (UnB); Mestre em Literatura e Doutor em Literatura pela UnB. Professor de Língua Portuguesa, Redação, Orientação de Monografia, Literatura e Pesquisas, no UniCEUB, de 1º set. 1988 a 1º jul. 2010. Palestrante, escritor, revisor e articulista espírita. Autor do Blog: <jojorgeleite.blogspot.com/>.
Autor dos livros:
1. Texto acadêmico: técnicas de redação e de pesquisa científica. 10. ed. 1. reimp. Petrópolis, RJ: Vozes, 2019.
2. Guia prático de leitura e escrita. 3. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2015.
3. Chamados de Assis: espaços fantásticos do Rio mutante na obra machadiana. Curitiba, PR, 2018.
4. Da época de estudante de Letras: edição esgotada: Mirante: poesias. Brasília: Ed. do autor, 1984.
5. Texto técnico: guia de pesquisa e de redação. 3. ed. rev., ampl. e melhorada. Brasília: abcBSB, 2004 (também esgotada).
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